A sabedoria e o conhecimento dos Mestres Saveiristas da Bahia sobre o mar é algo que ultrapassa a nossa imaginação. No livro “Graminho – A alma do Saveiro”, de Lev Smarcevski, vai fundo na história e nas técnicas de construção e navegação dos saveiristas, e descreve de forma única o ambiente onde essa cultura se desenvolveu.
“A costa da Bahia está orientada no sentido norte-sul. No lado oeste, as terras e, no leste, o mar.
No vocabulário da gente dos saveiros, os ventos do norte são os ventos altos; os do sul são os ventos baixos; os do leste, ventos de fora e, do oeste, ventos de dentro ou terral.
Por vezes, em pleno bom tempo, surgem no horizonte nuvens escuras carregadas que rapidamente chegam e despejam fortes pancadas d´água, precedidas e acompanhadas por ventos fortes.
Logo em seguida se desfazem ou seguem seus caminhos devolvendo o sol, a brisa e a tranquilidade quase permanente, característica predominante nos trópicos.
Ocorrem também os ventos baixos do sul, predominantes no inverno, que toma característica de mau tempo quando demorado, soprando às vezes durante semanas inteiras e virando temporal. Na Baía de Todos os Santos, mais protegida, o vento sul oferece menor perigo do que na costa do mar aberto. Mas é duro se ver nos meses de dezembro e janeiro aparecer o que não é santo na baía, avisando com antecedência com um negrume no horizonte a sua aproximação. Seu nome é Noroeste, vento violento (força 9 na escala Beaufort). Põe tudo em polvorosa, encalha embarcações, destrói redes elétricas e arranca telhados. O mar parece efervescente, levantam-se ondas curtas e desarrumadas, sem ritmo, verdadeiro inferno para terra e para o mar. Passados apenas 15 a 20 minutos, o noroeste vai embora voltando tudo à pura inocência do clima tropical.
O nome deste fenômeno, para alguns saveiristas, é “pirajá” (prajá ou para já, com sotaque português que foi abrasileirado e como é mais conhecido nas costas brasileiras). Na Bahia, é um vento forte que sopra durante pouco tempo, não demora.