por Suzana Camargo
Senciência é a capacidade de se ter sentimentos, como dor, prazer, fome, sede, calor, alegria, conforto e emoção. Com esse conceito em mente, um grupo de pesquisadores da London School of Economics and Political Science (LSE) fez uma análise, a pedido do governo do Reino Unido, sobre a senciência de algumas espécies marinhas. Depois de estudar mais de 300 pesquisas e artigos científicos, eles chegaram à conclusão de que cefalópodes, como os polvos, e decápodes, como caranguejos, lagostas e lagostins, possuem sentimentos.
Com o reconhecimento da senciência dessas espécies, elas devem ser incluídas no projeto de lei sobre o de Bem-Estar Animal, que foi apresentado pelo governo em maio, mas que ainda será votado no Parlamento (leia mais aqui). O texto já mencionava a capacidade de animais vertebrados sentirem dor, sofrimento ou felicidade, mas agora também incluirá invertebrados (animais sem espinha dorsal) como crustáceos e cefalópodes decápodes, que os cientistas provaram ter sistemas nervosos centrais complexos, uma das principais características da senciência.
“O projeto de lei assegura que o bem-estar animal seja corretamente considerado ao desenvolver novas leis. A ciência agora tem certeza de que decápodes e cefalópodes podem sentir dor e, portanto, é justo que eles sejam abrangidos por esta peça vital de legislação”, diz Zach Goldsmith, ministro do Bem-Estar Animal.
Diversos estudos internacionais já relatavam como os polvos são seres extraordinários. Uma pesquisa realizada por cientistas brasileiros, por exemplo, comprovou que eles apresentam duas fases de sono, de maneira muito similar aos seres humanos. E o mais intrigante é que em uma delas, esses animais mudam de cor.
Outro estudo conduzido por um neurobiólogo da San Francisco State University, nos Estados Unidos, tinha revelado que os polvos sentem dor não apenas física, mas “comportamentos cognitivos e espontâneos indicativos de experiência de dor afetiva (saiba mais neste outro texto).
O governo britânico ressaltou que o reconhecimento da senciência de polvos, caranguejos e lagostas não afetará a atual legislação ou as práticas da indústria, como a da pesca ou dos restaurantes. Todavia, a descoberta será levada em conta em futuras tomadas de decisão.
Entretanto, no relatório “Review of the Evidence of Sentience in Cephalopod Molluscs and Decapod Crustaceans”, elaborado pela London School of Economics and Political Sciences, os cientistas já recomendam que os seguintes métodos de abate sejam proibidos: fervura ou qualquer forma de desmembramento com o animal ainda vivo e também, imersão em água doce (choque osmótico).
Já em 2018, a Suíça proibiu o cozimento de lagostas vivas. Naquele ano, o governo determinou que elas deveriam ser mortas, de maneira rápida, antes de serem colocadas na água fervente. Decisão fez parte de uma mudança na legislação sobre a proteção animal para evitar o sofrimento e a crueldade.
Sim, eles têm sentimentos como os seres humanos, afirmam cientistas britânicos
Leia também:
Em discurso no Parlamento, Rainha Elizabeth apresenta novas leis pelo bem-estar dos animais no Reino Unido
Príncipe George tem aulas em contato com a natureza: boa notícia que quase ninguém leu
Projeto de lei que defende animais como seres com sentimentos e direitos é aprovado no Senado
O favorito ‘Professor Polvo’ ganha Oscar de melhor documentário
Fotos: Pasha gulian on unsplash (abertura) e David Todd McCarty on unsplash (lagosta)
Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
Deixe um comentário